O uso da #mulheresnapolitica dentro do TikTok
Quando olhamos para o uso das internet e das redes sociais digitais, percebe-se que a utilização das mesmas se torna limitado, neste sentido a Cetic (2020) aponta que a cada quatro indivíduos um não usa a internet. Mesmo com essas limitações ainda percebemos o uso das mais diferentes formas, uma delas é em relação à cobranças e aproximação de indivíduos que estão a frente da política.
Desta forma, a internet hoje domina os espaços de disputas, principalmente quando falamos de redes sociais digitais, onde diversos candidatos, políticos, influenciadores políticos se apropriam dessas ferramentas para poderem estar em contato com seu público. Quando se faz um recorte de gênero, percebe-se que mulheres (das mais diversas) estão ocupando esses espaços, colocando-as dentro do jogo e da opinião pública.
A partir disso, ao analisar a #mulheresnapolitica (12,6 milhões de visualizações), foi possível perceber como está a presença dessas mulheres dentro do espaço de poder político dentro da rede social TikTok, que vem se consolidando como rede social, por ser muito adaptativa (CERVI, TEJEDOR, MARÍN LLADÓ, 2021).
Porém, quando olhamos para as mulheres que ocupam esses espaços de poder e debate, temos um debate espinhoso e difícil, pois, “voz feminina é desejável apenas se não compromete o status quo” (PANKE, 2019), ou seja, quando problemas sociais e políticos não são questionados e colocados a prova. Em relação a isto, temos que 52% do eleitorado brasileiro é composto por mulheres, em contrapartida, mulheres que ocupam os espaço políticos nacionais têm uma presença baixíssima, sendo desta forma sub-representadas (BEATRIZ, 2021).
A partir disto, temos a presença das redes sociais digitais, em especial o TikTok, que proporciona uma maior visibilidade para esses grupos muitas vezes esquecidos ou diminuídos dentro da sociedade. Onde a utilização da hashtag é uma forma de popularizar debates dentro das redes sociais.
Desta forma, quando olhamos os resultados obtidos pela análise dos vídeos (análise de conteúdo e livro de códigos) a partir da #mulheresnapolitica, foi possível perceber algumas questões centrais na presença de mulheres dentro do debate político.
Quando olhado para a ideia de Gênero e identificação, percebe-se uma maior presença de mulheres brancas (46,7%) e mulheres negras (13,3%), percebemos ainda a presença de alguns vídeos de homens brancos (10%), mulheres indígenas não tem presença, e mulheres com deficiência corresponde à 3,3%.
Levando em consideração ao que Panke (2019) apontou, que as vozes das mulheres são aceitas apenas quando não quebram a lógica do status quo, temos Renata Souza, que ao fazer uma fala na plenária é interrompida, tentando a silenciar.
A #Mulheresnapolitica tem uma grande utilização dentro de espaços políticos formais, desta forma, percebemos uma maior utilização por mulheres na política institucionalizada, como é possível ver no gráfico a seguir:
Ainda é possível perceber a presença de campanhas políticas dentro da hashtag, lembrando que ela foi analisada em um período eleitoral, desta forma temos duas formas de campanha, uma feita por candidata política e outra por indivíduos comuns que não estão na política como profissão.
Como é possível ver no gráfico a seguir como é presente a campanha política dentro da hashtag:
Mesmo com a grande presença de campanhas políticas, ainda percebe-se a presença de ativismo político, sendo identificado 80% das produções abordando essa temática. No gráfico a seguir é possível perceber que tipo de ativismo está se falando:
O tipo de ativismo vai desde a questão do voto, até outros tipos de ativismo, que demonstra uma ampla gama de temas tratados dentro da hashtag, bem como a ampla gama de debates que podem ser desenvolvidos dentro das redes sociais digitais.
Desta forma, conclui-se que a hashtag #Mulheresnapolitica cumpre seu papel de trazer o debate sobre gênero, violência, presença, para os espaços políticos de poder. Além disso, mesmo com a presença desses espaços de debate e empoderamento de mulheres, percebemos que ainda temos muito a melhorar e caminhar, visto que, ainda temos poucas representantes femininas dentro dos espaços institucionais de poder. Como também, ainda temos que lidar com a grande violência de gênero presente tanto nas instituições, como nas redes sociais digitais. Mesmo o caminho sendo árduo, cada passo é uma conquista, desta forma, todo o espaço ocupado e apropriado por mulheres é bem-vindo e é uma vitória coletiva de todas as mulheres.
Referências:
BEATRIZ, Oliveira Maia Coutinho et al. Cartilha mulheres na política. 2021.
CERVI, L; TEJEDOR, S; MARÍN LLADÓ, C. TikTok y el nuevo lenguaje de comunicación política: el caso de Podemos. Cultura, Lenguaje y Representación, v. 26, p. 267-287, 2021.
CETIC. TIC DOMICÍLIOS: Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros — 2019. São Paulo: Grappa Marketing Editorial, n.1, 2020. p. 344. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/20201123121817/tic_dom_2019_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 26 jun. 2022.
PANKE, Luciana. Prefácio: a (in)visibilidade feminina nos processos de decisão da vida pública. In: BERTOTTI, Bárbara Mendonça; VIANA, Ana Cristina Aguilar; JURUENA, Cynthia Gruendling; KREUZ, Letícia Regina Camargo (org.). Gênero & Resistência, volume 2: memórias do ii encontro de pesquisa por/de/para mulheres. Porto Alegre: Fi, 2019. p. 525.